Sai loja Fábrica Sant"Anna, entra um hotel de Bordalo
Ana Vitória Mazo, espanhola que há cinco anos comprou um apartamento em Cascais, entra decidida na loja Fábrica Sant"Anna, em Lisboa: "Vi que vão fechar. É verdade? Já há um abaixo-assinado? Quero assinar." "Não há", esclarece Carlos Amaro, funcionário desde a década de 1980 no espaço que corre o risco de fechar para que o edifício onde está instalado dê lugar a um hotel inspirado na obra de Rafael Bordalo Pinheiro. A saída deveria acontecer amanhã, mas o diretor comercial do estabelecimento já garantiu que isso não não vai acontecer.
"[Quinta-feira] foi o dia que nos foi dado para o despejo, mas vamos contestar, por via judicial, e não vamos sair", assegurou na segunda-feira, à Lusa, Francisco Tomás. Na origem da intimação está a intenção do grupo Visabeira - proprietário do prédio localizado em pleno Chiado e detentor da Vista Alegre Atlantis (VAA) - de ali construir um hotel "inspirado na obra de Bordalo Pinheiro e no vasto património artístico" da empresa de porcelana, fundada em 1824, em Aveiro. Ainda mais antiga é a Fábrica Sant"Anna, que remonta a 1741. A loja com entrada pelo número 95 da Rua do Alecrim abriu portas em 1916. Já a fábrica em si está instalada na Calçada da Boa Hora, em Alcântara.
"Espero que consigamos chegar aos 100 anos, pelo menos isso", desabafa Carlos Amaro, o olhar atento aos turistas de diversas nacionalidades que visitam a loja e não resistem a tentar tirar uma fotografia ao espaço recheado de azulejos e outras peças em cerâmica. "Fotos, não", diz, em inglês, aos mais decididos, antes de adiantar que, no estabelecimento comercial que "acaba por ser um museu", os estrangeiros não entram apenas para ver.